debate

Um dos pontos de partida para este blog foi um extenso debate entre dois grandes “gurus” da cibercultura, publicado originalmente na revista Prospect em 4 de maio de 2009 e republicado pouco depois pelo caderno Mais! da Folha de São Paulo (em 10 de maio de 2009). Espécie de reedição dos famosos diálogos entre filósofos do século XIX, que se davam através de cartas ou panfletos acadêmicos, a troca de ideias aconteceu por email e, como tal, foi publicada – revelando muito do que hoje se tem discutido a respeito do cenário proporcionado pelas novas mídias e da propagada situação de decadência da chamada indústria cultural. Os envolvidos? Steven Johnson e Paul Starr.

Johnson tem formação em semiótica e literatura. É um dos mais reconhecidos pensadores do universo digital e da cibercultura, tendo escrito livros que se tornaram rapidamente sucessos em vendas. Starr é professor de sociologia e relações públicas na Princeton University, além de ter sido co-fundador da American Prospect.

Rico em detalhes e referências, o debate entre os dois autores mostra como a cibercultura ainda carece de uma reflexão compartilhada, à moda das revisões entre pares. A postura de ambos apresenta pontos importantes em convergência e discordâncias não menos relevantes. Steven Johnson parece muito mais otimista, apontando que uma visão ecossistêmica da rede, especialmente em sua escala hiperlocal. Starr rebate dizendo que um ecossistema pressupõe uma situação de equilíbrio e que, no entanto, a velocidade com que o noticiário local tradicional tem enfrentado suas crises particulares é muito maior do que o surgimento dessas novas mídias. Uma mídia, segundo Starr, se desenvolve historicamente.

Exceto por esta última frase (que quase que contradiz a visão clássica de Robert Park, para o qual o jornalismo tem uma história mas tem sobretudo uma história natural), o raciocínio de Starr tem mais afinidade com o pensamento dos primórdios da Escola de Chicago do que com o ponto de vista conservador de Andrew Keen. Isso porque em outro debate famoso, ocorrido no início do século XX entre o jornalista Walter Lippmann e o filósofo John Dewey (que mais tarde viria a influenciar toda a primeira geração de Chicago), o segundo já chamava a atenção para o fato de que a função da mídia não é meramente de “mediar” mas de fazer frente à “apatia”, auxiliando e fomentado o debate público sobre as questões de interesse comum.

Há muito mais pérolas neste como no outro debate, mas o importante aqui é só apontar para o que podemos fazer juntos, compartilhando referências, debatendo e construindo de forma coletiva uma experiência que discuta donde saímos e para onde vamos. O embrião que deu origem ao Overmundo Lab foi exatamente esta vontade de comentar casos, fomentar discussões e, claro, aprender muito com o feedback.