CONVITE

Lá nos idos pré-históricos de 2006 (o tempo passa cada vez mais rápido…), quando o Overmundo foi ao ar, sempre que recebia convite para algum debate ou palestra eu fazia uma contraproposta: queria dar aula, sobre produção colaborativa de conhecimento na internet. Era uma novidade para muita gente. Mesmo o termo Web 2.0 causava espanto, ainda que “todo mundo” usasse o Orkut e que o Brasil já fosse o segundo país do mundo no uso do Yahoo! Respostas ou do YouTube. Meus anfitriãos geralmente aceitavam o desafio, e tive oportunidade de falar sobre ferramentas colaborativas disponíveis online em várias cidades, para tipos diferentes de público.

Meus objetivos eram bem práticos: queria que as pessoas deixassem a conversa prontas e animadas para usar as novas possibilidades que todo dia surgiam na rede, aproveitando melhor os recursos para desde divulgar os seus trabalhos a inventar formas mais diretas de gestão democrática da vida política. Desejava também que as pessoas descobrissem o Overmundo e colaborassem para tornar visível a enorme diversidade da cultura brasileira contemporânea, que tinha cada vez menos espaço na mídia tradicional e centralizada.

Minha aula se adequava ao tempo disponível, mas geralmente eu falava pelos cotovelos – cheguei a ficar quatro horas falando direto, sem cansar, tal era a quantidade de temas interessantes a abordar. Sempre me impressionava o desconhecimento da plateia, mesmo a formada por estudantes e professores universitários – era necessário explicar tudo do início: o que era um wiki, e até como criar um link. Eu ia improvisando explicações na hora.

De lá para cá, passados quatro anos, a Web 2.0 se tornou tão familiar que nem precisa ser chamada de 2.0 ou 3.0 – é simplesmente a web. Estar online é colaborar, remixar, participar, nem que seja escolhendo quem seguir no Twitter (e os brasileiros continuam na vanguarda: outro dia, falando sobre internet numa escola do Ensino Fundamental, uma aluna de 11 anos me fez uma pergunta sobre diferentes modos de rastreamento de IP – com esses termos!)

O Overmundo se tornou uma experiência bem-sucedida, com um banco de dados cada vez maior e mais rico sobre o que acontece na cultura brasileira fora dos grandes centros (praticamente todos os dias, em suas filas de colaborações recentes, eu descubro uma novidade interessante, sobre a qual nunca tinha ouvido falar antes – e frequento o Overmundo todos os dias, religiosamente). É uma das poucas experiências de edição coletiva com foco editorial claro que se mantém na ativa com fluxo constante de novos colaboradores, entre as milhares que surgiram desde 2006 em todos os cantos do planeta. Mas ainda acho que poderia ser utilizada por muito mais gente, que traria para o site não apenas outras informações, mas até novas utilizações para o seu código, criando seus próprios “Overmundos”, com foco em qualquer tipo de assunto ou comunidade.

Continuamos com o objetivo de criar formas de participação cada vez mais descentralizadas.  Não só na publicação de colaborações no próprio Overmundo mas também no incentivo para que todo mundo possa ter acesso às ferramentas de produção colaborativa de conhecimento que existem na internet, e que possam refletir criticamente sobre esse novo mundo, suas vantagens e seus problemas. Desde 2006, época das minhas aulas improvisadas, a Equipe Overmundo (principalmente Helena Aragão, Thiago Camelo e Viktor Chagas, conduzindo várias oficinas, em favelas e em universidades – ver links para algumas delas aqui) aprendeu muito em como passar conhecimento sobre a produção de conhecimento. Queremos que mais gente utilize o que aprendemos no caminho, e o que criamos para facilitar o aprendizado. Queremos que novos oficineiros apareçam pelo Brasil afora, multiplicando o conhecimento, criando novos conhecimentos e materiais didáticos a partir do que fizemos até aqui, discutindo o que fizemos até aqui, incluindo muita coisa que ainda não sabemos e que pode aperfeiçoar muito nossa experiência, propondo outras experiências.

Damos início a este blog disponibilizando parte do material didático que acumulamos até agora, desde ementas e planos de aulas (com sugestões para tornar as aulas mais interessantes em termos didáticos) a apresentações que usamos para cada tema (de jornalismo cidadão a computação em nuvem – e muitos outros temas ainda terão apresentações publicadas na coluna direita deste blog). Não queremos, é claro, impor nada: considerem essas sugestões como ponto de partida. Elas estão publicadas com uma licença Creative Commons, que permite/incentiva mudanças, acréscimos, reduções, mashups. Queremos ser supreendidos com utilizações originais desse material.

Os temas tratados nas aulas são “obras em progresso”. Todos os dias surgem novidades e pontos de vista diferentes em cada um deles. Queremos que este blog vire também um fórum de debates sobre as questões levantadas aqui e nos materiais disponíveis e também sobre novas questões que possibilitem o uso criativo de uma internet cada vez mais verdadeiramente colaborativa e livre.