QR-Code

Fui apresentado (talvez tardiamente) a um dispositivo de codificação que está chegando aos pouquinhos no Brasil, mas já é adotado em larga escala no exterior, especialmente no Japão, onde foi criado. Giselle Beiguelman, do Instituto Sergio Motta, em apresentação ao Polo de Cultura Digital, grupo de pesquisa da UFRJ coordenado por Heloísa Buarque de Hollanda, falou sobre o QR-Code, tecnologia de armazenamento e leitura de dados, espécie de código de barras bidimensional.



Você pode ainda não ter notado, mas o QR-Code aos pouquinhos já vem chegando. Em alguns supermercados brasileiros, por exemplo, ele é usado nas embalagens de carnes para identificar a procedência do alimento, apontando inclusive para links e imagens do local de produção. O QR-Code, conforme lembrou Giselle, tem capacidade de armazenamento de dados bastante mais ampla, se comparado com a capacidade de um código de barras tradicional. São cerca de 3MB contra aproximadamente 25KB.



O que chama atenção na tecnologia, no entanto, é seu aproveitamento no universo cultural de formas tão diversas quanto na economia. Criado pela nipônica Denso Wave, o QR-Code se presta a uma multiplicidade de usos. Desde os mais comuns, como leitura e codificação de informações e preço em capas de revistas e embalagens de produtos, até a inusitada experiência de um cemitério japonês, que adotou o código em substituição aos epitáfios de seus túmulos. Em termos artísticos, Giselle apresentou instalações que aproveitam o QR-Code para propor experiências em que o expectador interage com a obra exposta a partir da câmera de seu celular. Isso porque a tecnologia é feita exatamente para isto: leitura rápida e facilitada em trânsito – o que torna seu uso bem interessante para a cultura dos dispositivos móveis.

O QR-Code, ao que parece, é apenas mais um sistema de codificação bidimensional – chamado também de código em matriz. Além dele, há uma série de outras tecnologias semelhantes, como o Aztec Code, o CyberCode, o DataMatrix, o ShotCode (que é circular), o Code1 (único em domínio público) e muitos outros. Todos eles incorporam um esquema de decodificação em radiofrequência (RFID), que possibilita essa agilidade de leitura, por exemplo, a partir de celulares e máquinas fotográficas.

Mas o que isso tudo representa afinal?

Há, é claro, mil possibilidades criativas para códigos em matriz. Uma delas, inclusive, a belíssima representação de avatares utilizada pelo WordPress no esquema conhecido como Identicon. O Identicon parece apontar para a possibilidade de construção de uma identidade binária de forma mais tangível que a simples proliferação de fotos pessoais em álbuns hospedados em redes sociais. Cada usuário é associado a um conjunto de caracteres em forma de mosaico, simplesmente irrepetível. Único, como a expressão da individualidade humana.



Mas fico me perguntando se essa tecnologia pode representar algo mais do que curiosidade estética. Sem dúvida são belos os mosaicos codificados, mas é preciso lembrar que, ainda que belos, não são ideogramáticos. A capacidade de decodificação dessa linguagem é protética, i.e. depende de próteses tecnológicas – as famosas “extensões” do McLuhan: celulares, MP-4s, MP-5s, MP-etc. Armazenar informação num QR-Code não é como escrever uma palavra por extenso. Sejamos todos, um dia, letrados em QR-Code e poderemos transliterar bits. Enquanto esta alfabetização em massa não ocorre, contudo, é bom reforçar que decodificação é memória.